segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Homenagem ao meu sobrinho! :p


Homenagem ao meu sobrinho!
Espero que tão cedo não venha mais nenhum!

Escolhas 6

Pedro começou a esfregar os paus de madeira, na esperança que uma chama aparecesse:
- Por acaso não tens um isqueiro, não? – perguntou o rapaz.
- Não! Não fumo!
- Fazes bem! Se bem que agora me dava um certo jeito.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Mais uma? – disse Pedro com ar brincalhão.
- Sim! Quando vínhamos a caminho deste local, reparei que tropeçaste numa pedra. Para dizer a verdade, quase caíste no meio do chão. Qualquer pessoa daria um chuto na pedra e continuaria o seu caminho, mas tu não! Procuraste-a e guardaste-a! Porquê?
- A pedra! Que óptima ideia! Pode ser que consiga fazer lume com ela! Onde é que eu a guardei? – procurou nos bolsos – Ah! Está aqui! Vamos lá tentar agora!
Depois de algumas tentativas, lá se acendeu uma pequena chama que ia sendo mantida pelos pequenos ramos que Pedro tinha trazido. Finalmente decidiu responder-lhe:
- Querias saber porque razão guardei a pedra? Eu conto-te! Diz-me primeiro que livro trazes na tua mala!
- O livro que trago? São poemas de Fernando Pessoa. Porquê?
- Bem me pareceu! Nesse caso devias saber porque guardei a pedra. “Pedras no caminho? Guardo-as todas, um dia vou construir um castelo…” Percebeste?
- Quer dizer que a guardaste para te lembrares que deves andar com mais atenção quando passeias pelo bosque? – Pedro riu-se e respondeu-lhe:
– Também! Quando olho para ela, lembro-me que quase caí porque ia distraído. Mas não só! Fernando Pessoa era ligeiramente mais profundo que os meus tropeções. – Mariana sorriu-lhe e Pedro continuou:
- Hoje em dia as pessoas têm um estranho hábito. Quando algo menos bom lhes acontece, esforçam-se por passar uma borracha por cima e esquecer tudo. Receiam relembrar a dor porque não sabem lidar com ela. Cada obstáculo que surge no nosso caminho deve ser visto como uma lição. Exactamente como quando se anda na escola. Lembraste quando fazias exercícios de matemática? Aposto que quando vias que erravas não desistias de tudo e mudavas de disciplina. Não! Voltas a ler e tentavas compreender o que estava errado para que da próxima vez que o fizesses não caísses no mesmo erro…
- E é isso que deveria fazer com as restantes coisas da minha vida? Tirar delas uma lição? Perceber onde errei e superar-me para não voltar a perder-me no mesmo erro?
- Exactamente!
- Para um miúdo de dezanove anos, até dizes coisas inteligentes! – Mariana riu-se – Queres uma sandes?
- Sim, obrigado! Vou tentar ir buscar água. Aposto que estás cheia de sede! Já reparaste que quando te interessas por um assunto és muito menos refilona. Já nem lamentas ter-me seguido!
- Foi uma escolha que fiz! Tenho que aprender a viver com ela! – Ambos se riram!
Mariana viu Pedro fazer uma concha com as mãos e levar a água à boca.
- Está fresca! Podes vir beber! Não sabe mal!
Mariana dirigiu-se ao pequeno riacho e seguiu o exemplo de Pedro:
- Está salgada. Não sabe lá muito bem!
- A sério? Que estranho! A mim soube-me bem. – disse-lhe ele, momentos antes de se decidir a salpica-la com a água do riacho.
- Pára Pedro! Vais molhar-me a saia toda! – Mas Pedro estava a achar piada à brincadeira. Mariana fechou os olhos, fazendo um esforço para não se zangar. Quando os abriu percebeu, finalmente, o que lhe tinha acontecido.
Estava de volta à praia e Pedro tinha desaparecido. Ela tinha adormecido em cima daquela grande rocha à beira-mar. Tinha sido a água a acordá-la, assim que começara a molhar-lhe a saia. Mariana levantou-se da rocha e afastou-se do mar. Tudo aquilo não tinha passado de um sonho. Mas parecia-lhe tão real. Tinha aprendido tantas coisas em tão pouco tempo.
Já estava a ficar tarde. Tinha que voltar para casa. Não valia a pena perder-se em sonhos, quando tinha gente à sua espera. E foi então que tropeçou numa pequena concha. Olhou para ela e apanhou-a.
- Vou guardá-la! – pensou – Apesar de ter sido um sonho, de certeza que não perco nada em me relembrar dele de vez em quando.
Quando entrou no carro, ligou o rádio numa música ligeira. Seguiu a estrada habitual e quinze minutos depois estacionava à porta de casa. Não conseguia, contudo, deixar de pensar:
- E se tivesse escolhido o caminho do bosque?

FIM

domingo, 25 de novembro de 2007

Escolhas 5


Chegaram finalmente àquele que parecia o local que Pedro procurava:

- Vais ver que valeu a pena ficar por cá! - Pelo som que conseguíam escutar, tinham que estar muito próximos de um riacho.

Pedro ajudou Mariana a descer por um aglomerado de pedras que parecia querer esconder o local. Quando chegou ao chão, Mariana reparou numa pequena cascata, onde a água caía e embatia nas pedras, molhando tudo à sua volta. A água gelada corria apressada em direcção a um enorme e calmo lago. À sua volta cresciam árvores altas e vistosas. Havia flores de tantas cores: amarelas, brancas, vermelhas e cor-de-rosa. E por cima do lago!? Era tão estranho, mas por cima do lago repousava, no céu limpo e já quase sem sol, um enorme e colorido arco-íris.

Os olhos de Marina nem queriam acreditar no que viam! Tinha a boca semi-aberta de espanto e de admiração. Como era possível que nunca tivesse sabido daquele local?

- Fecha a boca! Aproveita o espectáculo enquanto ainda há luz. – Avisou Pedro. Enquanto ela se sentava, admirando os pássaros que chegavam agora a suas casas, ele procurava alguns ramos que tivessem caído das árvores ali perto.

- O que estás a fazer? – perguntou-lhe.

- Estou a garantir que teremos luz quando o sol desaparecer de vez.

- Ah! – Voltou a contemplar as cores à sua volta. Das flores emanava um perfume doce. – Como é que é possível que nunca tenha dado por este local? Nunca ninguém me falou deste espaço e duvido que muitos o conheçam. Não vem no mapa ou nós não devíamos estar aqui?

- Está descansada! Qualquer um pode vir aqui quando quiser. Só precisa de saber o caminho correcto, e isso costuma ser o mais difícil. Mas os homens distraem-se com facilidade, não é? Cansam-se rapidamente e desistem de procurar aquilo que verdadeiramente os faz feliz!

- Porque dizes isso? Não somos todos assim! Alguns passam uma vida inteira à procura dos seus sonhos, da felicidade…

- E perdem-se em sonhos! Mariana – foi a primeira vez que Pedro disse o nome dela – para se ser feliz não basta sonhar. É preciso procurar saber mais, esforçarmo-nos por conhecer…

- Mas muitas pessoas sofrem enquanto procuram a felicidade!

- Ainda não percebeste que o sofrimento é inerente à tua condição? Se não sofreres, não dás valor às coisas. Só quando sentes a falta de alguém percebes o bem que te faz a sua presença. E todas as dificuldades por que passamos não são mais do que provas que temos que superar para nos melhorarmos.

(continua...)

Escolhas 4

- Tudo bem! Não tenho escolha. Para que lado é a tua casa?

- Por aí… - disse com um ar vago. Mariana ia preparar-se para gritar com ele, mas Pedro foi mais rápido – E nem vale a pena refilares. Não tens opção. E quanto ao jantar, eu sei que trouxeste umas sandes na mala. Estavas a apanha-las do chão quando cheguei.

Era bem verdade. Não tinha outra opção. Teria mesmo que passar a noite naquele bosque na companhia de um estranho rapaz e de uma sandes que tinha feito ainda de sair de casa. E pensar que quando era mais nova sonhava com piqueniques neste bosque. Nunca mais se metia numa situação destas!

Quando Pedro se fartou de brincar com o gafanhoto, passou por Mariana empurrou uns ramos que lhe dificultavam a visão e começou a andar por um novo caminho. Rapidamente, Mariana seguiu-o sem dizer uma única palavra. Foi ele que lhe perguntou:

- Afinal, como é que vieste aqui parar?

Ela contou-lhe toda a sua aventura. Falou-lhe da estrada cortada, do carro sem gasolina e da encruzilhada. Nessa altura, ela disse:

- Agora estou certa de que devia ter escolhido o outro caminho!

- Como sabes? Na nossa vida temos que fazer escolhas. Umas mais difíceis que outras, mas apenas escolhas.

- Sim, mas esta escolha deixou-me perdida no meio do bosque! Não foi uma escolha qualquer. E eu não tenho culpa de estar perdida!

- Se temos liberdade para escolher, também devemos ter responsabilidade para lidar com as nossas decisões. Não tinhas que ter escolhido nada. Podias ter ficado no carro à espera, podias nem ter saído hoje de casa. Mas escolheste ir à praia, escolheste a estrada do bosque e escolheste abandonar o teu carro para chegares a casa ainda hoje. Acho que já és suficientemente crescida para perceber isto!

- Podes ter razão em tudo o que disseste, mas como não decidi ouvir sermões de um miúdo de dezoito anos, por favor fica calado e não me enerves mais.

- Já que falas nisso, são quase dezanove anos. E este “miúdo” acabou de te dar uma lição que tu preferes não entender. Mais uma vez, a escolha é tua! – E continuou o seu caminho. Andava aos ziguezagues por entre as árvores. Mariana não sabia se o fazia de propósito para a chatear ou se tanta sinuosidade tinha alguma utilidade prática. Sabia, no entanto, que estava quase a ficar enjoada e começava a achar que não iam chegar a lado nenhum.

Enquanto seguíam trilhos cada vez mais estreitos, repararam que a noite se aproximava a passos largos. Possivelmente devido à falta de luz, Pedro tropeçou numa pequenina pedra e quase caiu. Mariana ainda o viu à procura de qualquer coisa no chão e reparou que depois de encontrar a pedra em que tinha tropeçado, a guardou no bolso e prosseguiu o seu caminho.

(continua...)

sábado, 24 de novembro de 2007

Escolhas 3

Quando acordou, a névoa parecia ter-se dissipado. Devia ter ficado no chão apenas uns minutos, porque o céu não parecia muito mais escuro. Contudo, sentia o corpo pesado e começava a ficar assustada porque não via chegar o fim desta aventura que ela não tinha pedido.

Levantou-se cuidadosamente. O conteúdo da sua mala tinha-se espalhado pela terra: chaves, umas sandes, telemóvel, um livro… E estava tudo sujo! Apressou-se a arrumar os seus pertences. Olhou em volta e não reconheceu o local. Agora estava, definitivamente, perdida! Não via qualquer prédio no horizonte e o trilho era demasiado homogéneo. Ainda estava a meditar na situação em que se encontrava quando ouviu o roçar de roupas nas folhagens. Alguém se aproximava dela.

De repente, surgiu à sua frente um rapaz de pele clara e olhos escuros. Tinha o cabelo meio desalinhado e parecia distraído com um pequeno insecto que saltava perto da sua mão esquerda. Não vinha vestido para um passeio pelo bosque, mas as suas roupas estavam impecavelmente limpas (ao contrário da saia de Mariana cujas cores já se tinham perdido entre o pó e a terra). Como parecia decidido a não olhar na direcção de Mariana, foi ela que iniciou a conversa:

- Olá! – disse-lhe – O que fazes por aqui? - Mas ele não lhe respondeu. Limitou-se a fixar o olhar no insecto, que agora pousava no seu nariz. Irritada com a situação voltou a tentar:

- Ei! Estás a ouvir-me? Estou a falar contigo! Porque não me respondes?

- Estou ocupado! – Afinal ele falava, mas pelo tom de voz era fácil perceber que não devia ter mais de dezoito anos.

- Estás ocupado com o quê?

- Estou a observar a vida deste grilo!

- Isso não é um grilo… é um gafanhoto… - Aborrecido com a sugestão de que poderia estar errado, o rapaz recuperou o silêncio. – Ok! Esse teu… grilo, por acaso não sabe o caminho de regresso à cidade?

- Porque queres saber? – Ele olhou pela primeira vez na direcção dela. Depois colocou o gafanhoto na árvore mais próxima.

- Porque já está a ficar tarde e preciso voltar para casa. Tu também tens que voltar, não?

- Não! – disse o rapaz voltando a seguir com os olhos os saltos que o seu insecto dava de ramo em ramo.

- Como não? De certeza que os teus pais estão preocupados à tua procura. Onde é que moras? Em que zona da cidade?

- Eu moro aqui!

- No bosque? – disse Mariana incrédula.

- Não! Moro aqui, ali, onde me apetecer. Decido o que faço com a minha vida e sou responsável pelos meus actos. Não tens que saber mais nada!

- Já percebi que também és muito simpático! – ironizou Mariana - Como te chamas? O meu nome é Mariana e, apesar de também ser responsável pelos meus actos, moro na cidade e tenho a minha família à espera para jantar.

- Chamo-me Pedro. Porque não ficas aqui? Porque não passas a noite no bosque? Aposto que não fazes ideia do caminho de volta. – troçou Pedro.

- Não sei, mas posso procurar. Achas mesmo que vou passar aqui a noite? Estás completamente doido! – Mas Pedro já tinha a resposta preparada:

- Vê se percebes uma coisa: de noite, as árvores são todas iguais. É praticamente impossível chegar à cidade sem um guia. E hoje já estou cansado. Amanhã de manhã deixo-te na cidade, se quiseres. – O tom do rapaz parecia sério e deu a Mariana a estranha sensação de que podia confiar nele. De qualquer maneira, já estava desesperada e sozinha não chegaria a lado nenhum.

(continua...)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Escolhas2

- Calma! – pensou alto – Não é nada de especial. Quando passar o próximo carro, de certeza que alguém me ajuda. Emprestam-me o telemóvel e eu ligo para o reboque… e para casa, também.

Mas não passava ninguém. Ao fim de cinco minutos, a impaciência tinha, finalmente, tomado conta dela. Desesperada, começou às voltas em torno do carro. Para se distrair pontapeava pequenas pedras na berma da estrada. De dois em dois segundos olhava para o horizonte, mas nada. Não passava um único veículo!

Decidida a fazer alguma coisa, Mariana trancou o carro e pôs-se a caminho. A cidade já não estava longe e, apesar de não conhecer bem o bosque, acreditava que, se seguisse a estrada, em breve estaria a beber o seu chocolate quente no conforto do seu quarto. Caminhava rapidamente. O seu passo apressado transmitia-lhe confiança e isso afastaria qualquer sentimento de medo que se tentasse apoderar de ela.

À medida que avançava no bosque, a folhagem ia ficando mais densa. Começava a ter dificuldade em ver o percurso, uma vez que a luz do sol já quase não passava por entre os ramos das árvores. Era tão estranho! Naquela altura do ano, a clareira já devia ter perdido as folhas, mas ali, ao contrário do que tinha observado à entrada do bosque, estas permaneciam verdes e frescas como na Primavera.

Chegou, então, a uma encruzilhada. À sua frente estava um tronco alto e rugoso que dividia o caminho em dois. Placas de sinalização? Nem uma! À sua esquerda estava um caminho mais amplo. Parecia ser aquele que daria continuidade à estrada. À sua direita havia um pequeno trilho e o seu olhar já conseguia alcançar formas que em muito se pareciam com alguns prédios da sua cidade. Seria aquele um bom atalho?

Encontrava-se perante um dilema: continuar no seu caminho parecia ser o mais seguro a fazer, mas se o trilho a levasse à cidade mais rapidamente, não valeria a pena correr esse risco? O que fazer? Todos os dias temos que tomar decisões, fazer escolhas, deixar algo para trás para poder prosseguir o nosso caminho. Mariana nunca tinha sido boa a tomar decisões rápidas, mas como não tencionava passar a noite naquela encruzilhada, decidiu-se pela direita e prosseguiu o seu caminho!

À medida que avançava pelo trilho, reparou que uma névoa a envolvia e lhe confundia a visão. Era cada vez mais complicado ver os prédios. Olhou para trás na esperança de retomar à encruzilhada e optar pelo outro caminho, mas já não conseguia ver por onde tinha vindo e receava perder-se mais do que já estava.

O ar parecia mais quente. Estava mesmo a ficar abafado. Na realidade, agora que ela tentava olhar em frente, tudo lhe parecia desfocado. Começou a sentir-se tonta. As árvores já giravam em seu redor. Os olhos pesavam-lhe cada vez mais e tinha dificuldades em respirar. Então, pela primeira vez na sua vida, Mariana sentiu-se a desfalecer e desmaiou.

(continua...)

Escolhas1

– O tempo está a mudar! - pensou. De olhos postos no céu, Mariana fazia uma breve análise da atmosfera que a rodeava. Tinha estado um Verão quente, demasiado quente na sua opinião. Ainda assim, tinha aproveitado bem as férias: depois de uma pequena viagem aos Açores, ainda conseguiu arranjar tempo para estar com os amigos e com a família. Chegara, agora, o tempo de repor energias para mais um ano lectivo que já estava a bater à porta.

Enquanto dava atenção a cada pormenor da natureza que a rodeava, Mariana constatava que já soprava um vento leve e frio. Era natural que, ali à beira-mar, ainda se constipasse. Mas a beleza da água límpida e azul envolvia-a. As cores do pôr-do-sol pediam-lhe que ficasse só mais um pouco com elas.

Com os sapatos na mão, decidiu brincar com a água salgada. Estava gelada, mas isso não a impediu de caminhar nela, de salpicar o vazio, de rir consigo própria. Então, foi sentar-se numa rocha grande e escura. Esta parecia esperá-la para que juntas pudessem aproveitar o espectáculo que a natureza lhes oferecia.

Enquanto fixava o olhar no horizonte, Mariana revisitava cada pormenor da sua vida. Nunca tinha tido uma vida difícil, mas com o avançar da idade, as responsabilidades aumentavam e os problemas pareciam surgir do nada. Ainda assim, sorria. Uma amiga dela costumava dizer-lhe que vivia num mundo encantado. Talvez fosse verdade!

De facto, o tempo começava a mudar. Já estava a ficar tarde, por isso era preciso voltar para casa. Depois de tentar sacudir a areia da saia, entrou no carro e abriu a janela, mas não ligou o rádio como habitualmente fazia. Queria aproveitar o silêncio mais um pouco.

O caminho que habitualmente a levava de regresso a casa parecia interdito, por isso, a sua única alternativa seria o percurso que atravessava o bosque e que a deixaria às portas da cidade em trinta minutos. Pôs-se a caminho.

Não se recordava da última vez que ali passara. Contudo, aquelas árvores lembravam-lhe um tempo de inocência, lembravam-lhe de quando ainda era uma criança. Os avós levavam-nos, a ela e ao irmão, a passear pelo bosque. Sempre que ali passavam, Mariana pedia para pararem e fazer um piquenique. Mas os avós diziam que era perigoso parar no meio de um bosque desconhecido e os netos acabavam por esquecer o piquenique, perdendo-se em mais uma das histórias do avô.

À medida que avançava e olhava para o caminho, Mariana observava a paisagem que a rodeava. Chegou a reduzir a velocidade para melhor apreciar as diferentes tonalidades das folhas das árvores que, lentamente, já começavam a pintar o chão de verde, castanho e dourado. Estávamos em Setembro.

Enquanto se deliciava com cores e histórias da infância, quase se distraía na condução, chegando a afastar, ligeiramente, o carro do caminho. Felizmente, não vinha ninguém atrás, ou os seus devaneios já lhe teriam custado um pequeno acidente.

Os pensamentos de Mariana foram interrompidos por um ruído que já a acompanhava há alguns minutos. Apesar de não reconhecer o som, apercebeu-se, logo, de onde vinha. O motor do carro tinha decidido escolher aquele momento para apresentar uma reclamação: falta de gasolina. Ainda meio alarmada, Mariana tentou continuar o seu percurso, mas logo o carro abrandou, dando apenas tempo à sua condutora de o encostar à direita.

Mariana saiu do carro. Não acreditava que aquilo lhe estivesse a acontecer. Procurou na mala o telemóvel. Desligado por falta de bateria. Claro! É sempre nestas ocasiões que a bateria do telemóvel acaba! E foi então que percebeu: estava no bosque, sem gasolina, sem poder contactar com ninguém, sozinha.

(continua...)

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Pedras no caminho?

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e tornar-se autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho? Guardo-as todas, um dia vou construir um castelo... "

Fernando Pessoa

domingo, 18 de novembro de 2007

Uma história

Estou confusa!

Tenho histórias que urgem ser contadas.

E tantas vezes estiveste lá tão perto sem sequer desconfiar!

Quero-te contar a minha história…

Quero-te contar a história que ninguém conhece, mas que fez de mim o que sou hoje. Se foi bom ou mau, não sei! Foi triste, mas tem um final muito feliz, acho eu! Um final que me fez conhecer-te… e a quantidade de lições importantes que já aprendi contigo em tão pouco tempo!

Mas até agora não fui capaz. Deixo sempre para “um dia destes”.

Quero contar, mas só a ti. Antes de te conhecer só pensei numa pessoa, mas ela é demasiado frágil para ouvir a história toda e eu não poderia ficar a meio.

Queria tanto tê-lo feito ao jantar, mas dei por mim a pensar: “não é hora para te chatear com isto!”.

Hoje falaste de confiança, não foi? Achas que confio em ti cegamente. Não! Tens a certeza que confio… e isso é tão verdadeiro. Já me conheces tão bem! Não sei como. Chega a ser assustador quando me lês o pensamento. Não somos assim tão diferentes, mas sei que te admiro desde o primeiro dia. Sabes isso, não sabes? Compreendes porque te disse, hoje, que preferia que fosses sempre a primeira pessoa a responder às minhas perguntas (e elas não acabam nunca!)???

Mas, se confio, porque não sou capaz de me sentar e dizer-te tudo?

Receio que me evites, que me chames “tolinha”. Tenho medo que não compreendas, que me aches fraca, que penses “esta é maluca!”. E eu não te quero desapontar! Não a ti!

Também tenho uma pergunta a fazer-te: quero saber “porquê eu?”. Mas receio destruir tudo. Tenho medo que me respondas “não sei” ou “porque sim”. Tenho medo que um dia te esqueças de mim e por isso esforço-me para estar tão presente. E qualquer dia cansas-te.

Porque é que perdes o teu tempo comigo? Porque é que queres o meu bem? Porque te cansas por mim e insistes em ver-me feliz? Porque insistes em manter-me no meu caminho quando não te dou nada em troca? Consigo ser tão egoísta contigo. Nem sei se estás bem. Pareces-me bem!

Confias em mim? Houve um dia em que achei que sim, mas não sei. Não sei se te conheço, nem sei se te queres dar a conhecer. E, no entanto, há tantas coisas que partilhas comigo e que me fazem sentir especial.

Não sei! Não sei o que achar, nem sei se devo achar algo.

Sei que senti a tua falta e que agora estou mais tranquila. Sei que se soubesse que ias ler isto não o tinha escrito, mas tenho a esperança que um dia tropeces neste texto.

Sei que se soubesses que estou até agora a escrever davas-me um dos teus sermões e mandavas-me dormir!

Da próxima vez que tivermos tempo, lembra-me que tenho uma história para te contar!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Postalinho!!!!!!

Recebi um postal!

Estou tão contente!

Era mesmo só para partilhar a minha alegria!

YEY!